Sbronka

Aqui tem sensualidade mas não tem pornografia, não tem piada manjada, matéria copiada nem nenhuma outra chupação de idéia alheia. Este blog é feito de textos, fotos e montagens de minha autoria e qualquer idéia, texto ou fotos de terceiros terá seu crédito. Este Blog não tem o compromisso de agradar a ninguém. Toda crônica depende do humor do dia, ou da hora. Por fim, este blog não tem papas na língua e o formato é secundário para valorizar o conteúdo.

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Local: Salvador, Bahia, Brazil

Especialista em qualidade de software, atuando na área de Gestão do Desenvolvimento no Serviço Federal de Processamento de Dados - SERPRO.

04 novembro 2014

Como Fazer Cabeças e Influenciar Pessoas


“Por que investir em Cuba? Em uma palavra: Oportunidade! Há um potencial enorme no mercado cubano. Cuba é a maior ilha do Caribe e uma porta de acesso natural à América Latina e aos Estados Unidos … e a população cubana é a mais capacitada da região, com 97% de taxa de alfabetização e que oferece técnicos altamente treinados para indústrias tecnológicas”.
O texto não é de uma cartilha de governo bolivariano ou do programa do PT, muito menos de qualquer peça publicitária do governo brasileiro. É um trecho do blog “Americans For Cuba” [1], incentivando investimentos das empresas americanas na ilha. E sem excitar uma revolta histérica da classe média.

Os sinais de cifrão se acenderam nos olhares atentos de investidores tão logo o governo cubano promulgou uma lei favorecendo os investimentos estrangeiros na ilha, apresentando benefícios fiscais e reforçando a transparência das relações [2]. Neste contexto, os “cuban-americans” temem, por conta das inflexíveis leis americanas que impõem o embargo à ilha, perder espaço para investimentos vindos “do Brasil, China, Russia e Europa” [3].

Enquanto esses atores esperam que o presidente americano relaxe as restrições de investimento privado na ilha, por aqui eles tem um grande aliado: a mídia direitista, que investe até mesmo a reputação de seus “jornalistas”, para defender a ideia de que qualquer ação relacionada à ilha é um sinal inequívoco da presença do diabo em pessoa no governo, à beira da implantação de uma ditadura comunista. Estou exagerando? Vamos ver...

Por ocasião da inauguração do porto de Mariel, analistas internacionais perceberam [4] o papel de destaque que o Brasil pode ter como parceiro no investimento massivo na área industrial, por estar politicamente inserido como parceiro da ilha, podendo colher os frutos de uma inevitável abertura econômica – nos moldes que a China já promoveu há anos, atraindo empresas como Apple, Ford, Nike, GAP [5] num movimento que nem de longe foi chamado de “Chinalização dos Estados Unidos”, até porque a opinião pública de lá não é tão... “bovina”... para usar uma expressão Diogo-Mainardiana (ou seja, escrota). Estes analistas consideram que a intenção do Brasil ao efetuar investimentos em Cuba é estratégica pois colocaria o país à frente deste processo de abertura econômica, se favorecendo das condições oferecidas para a parceira e da posição geográfica privilegiada (como já citado: porta para as Américas do Norte e Central).

Em qualquer país do mundo, levar suas indústrias a nível multinacional é sinônimo de expansão e crescimento, além de indubitável sinal de liderança econômica. Para o “jornalista” Reinaldo Azevedo, e o rebanho que o segue no órgão oficial da imprensa tucana, o investimento é nefasto, demoníaco. O que o jornalismo internacional (leia-se isento da politicalha local) coloca como uma cartada para estar à frente de um novo mercado, é colocado pela Veja à sua platéia como sendo um absurdo, no que a claque repete: absurdo!! Cubanização!! Currupaco paco paco!!!

Como isso ocorre? Usando de métodos nada novos, e muito utilizados para persuasão nos discursos que marcaram Hitler na ascenção à liderança nazista e, depois, da Alemanha. Estes métodos se baseavam em utilizar (a) o jogo da culpa e do ódio, (b) o jogo do moralista e injustiçado, (c) o jogo da propaganda oportunista, entre outros (destrinchados neste fantástico artigo que utilizo como fonte deste argumento) [6].

Colocando esta tese à prova, vamos avaliar a mesma questão que a BBC vê como sendo uma jogada de oportunidade para o Brasil ao investir em Cuba, mas agora sob a ótica do “jornalista” Azevedo [7]: num artigo cuja manchete apropriadamente se define como “estupefaciente” (ou seja, entorpecente, talvez se referindo ao efeito mental que quer causar), ele começa buscando a empatia com o leitor, abrindo a sua cabeça com o pé-de-cabra do ódio comum (e nós sabemos a quem ele e o seu rebanho odeiam de paixão, o governo do PT): “Dilma tenta fazer indústria farmacêutica brasileira migrar para Cuba; se conseguir, provocará desemprego aqui e vai gerar empregos lá”.

Pronto. Com uma só machadada ele rachou o crânio de seus leitores para enfiar lá dentro o que quiser, sem o menor compromisso com fatos, ou receio do crivo crítico, a essa altura já acorrentado pelo medo e o ódio. A partir do momento em que o senso crítico do leitor foi destruído, não importa que se transforme “investir” em “migrar”, ainda que sem o menor respaldo de fatos ou indícios que levem a essa afirmação.

Ele continua ganhando o apoio do leitor – já devidamente amaciado – com afirmações pirotécnicas ao gosto da torcida: “È que a presidente Dilma, pelo visto, cansou de governar o Brasil, … agora quer fazer a diferença, sim, mas lá em Cuba.” A essa altura, o leitor já não pensa, só dá pulinhos de satisfação enquanto bate palmas ao que considera “suas palavras”. Nada embasado em fatos, em fontes ou qualquer outro cuidado jornalístico. Pura deturpação de um fato, salpicada de opiniões lapidadas para gerar a repulsa e o ódio. Não é à toa que as palavras “nojento”, “revoltante”, “maldita”, permeiem os discursos sobre estes “fatos” e a chefe de governo – chamada espertamente de “soberana” pelo aprendiz de Goebbels.

Depois disso, o que vier é aceito e absorvido como água em terreno seco (ops, desculpem, sem intenção de ofender aos conterrâneos paulistas): “A presidente quer fazer a nossa indústria farmacêutica migrar para Cuba, de sorte que passaríamos a ser importadores de remédios produzidos pelos próprios brasileiros, … desempregando brasileiros e empregando cubanos”. Pronto, o jogo da injustiça foi colocado, alimentando com mais lenha o ódio semanalmente regado pelo próprio veículo de mídia.

Acabou o jogo! Nesse ciclo vicioso, a “denúncia” deturpada de hoje, engolida em meio à massa do ódio, alimenta esse mesmo ódio, abrindo espaço para qualquer outra “denúncia” da semana seguinte. Não importa que seja algo tão vago e inverossímil quanto “O petralha Haddad desvia água do complexo Cantareira para irrigar terrar áridas em Marte, o planeta vermelho, portanto comunista”. Está feito o jogo da propaganda oportunista.

Neste ciclo, não dá tempo do leitor ruminar uma “denúncia” que a próxima já lhe é ofertada. Antes que se possa verificar que o fato anterior estava deturpado ou não apresentou as características que a “denúncia” trazia - por exemplo, que não se fecharam fábricas aqui para abrir novas fábricas em Cuba -, uma nova “denúncia” joga outra acha de lenha na fogueira da histeria, lubrificando o caminho para qualquer nova bobagem que se queira incutir nos leitores.

É nesse caldo que milhares de pessoas bradam contra a “cubanização” sem nem mesmo saber definir o que significa isso. Dessa mesma forma, são construídos os outros totens dedicados ao ódio que alimenta essa cisão no país: dos “vagabundos” do Bolsa Família, e da “falência” atual do Brasil – ao contrário do que anuncia a “comunista” Forbes, que atribui a vantagem de Dilma ao fato de ela ter a seu lado um país em situação melhor do que encontrou ao assumir o primeiro mandato [8] – à idéia de uma “ditadura comunista” num país onde os bancos transbordam de lucros, nenhuma propriedade foi estatizada e qualquer lunático pode sair às ruas pedindo um golpe militar, para arrepio dos professores de ciências políticas que sabem o significado real dos termos “ditadura” e “comunista”.

Seria tudo uma grande piada se não fosse um tanto quanto perigosa, como mostram as manifestações após a reeleição de Dilma, tentando roubar no tapetão o que se perdeu nas urnas.

Meu conselho? Antes de sair babando de indignação pela nova “denúncia” da Veja, ou se lamentando quanto à “destruição” da nossa economia, pesquise sobre o tema em uma mídia internacional, não contaminada pelos intere$$es da mídia tupiniquim, que – aliás – se alimentou e cresceu muito nos tempos da ditadura, daí talvez as saudades...