Sbronka

Aqui tem sensualidade mas não tem pornografia, não tem piada manjada, matéria copiada nem nenhuma outra chupação de idéia alheia. Este blog é feito de textos, fotos e montagens de minha autoria e qualquer idéia, texto ou fotos de terceiros terá seu crédito. Este Blog não tem o compromisso de agradar a ninguém. Toda crônica depende do humor do dia, ou da hora. Por fim, este blog não tem papas na língua e o formato é secundário para valorizar o conteúdo.

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Local: Salvador, Bahia, Brazil

Especialista em qualidade de software, atuando na área de Gestão do Desenvolvimento no Serviço Federal de Processamento de Dados - SERPRO.

23 janeiro 2009

LARGANÇA ESPERANÇA


Muitas pessoas tem filhos, boa parte da humanidade os tem ou os terá. O que difere basicamente entre todos estes é que alguns tem crianças e outros tem larganças. Criança é o que se cria. Criar no caso não é inventar, mas prover, educar e encaminhar até que o filho possa adquirir autonomia. Isso pressupõe prepará-lo para a vida em sociedade, o convívio harmonioso e próspero com o meio social que nos cerca. Para isso uma porção de mecanismos se estabeleceram desde tempos esquecidos, regras tácitas ou explícitas que de alguma forma fazem com que consigamos nos suportar, todos ao nosso redor, no mais amplo e positivo sentido da palavra, o de amparar, ajudar.
Infelizmente, ao contrário dos que criam há os que largam, daí cunhei o termo "largança" para um certo tipo de indivíduo que estamos formando nessa nossa sociedade atual. Chega de teoria, vou explicar com fatos, todos eles ocorridos no intervalo destes 23 dias do ano de 2009.
Episódio 1 - Shopping Barra, sábado à tarde, no banheiro infantil minha filha aguarda a vez de entrar no reservado. Chega uma senhora com a filha da mesma idade, talvez um pouco maior, uns oito anos. Com um gesto no ombro da menina a mãe a incentiva a ignorar a presença de outros, a furar a fila e ir se metendo na porta do banheiro como se não existissem pessoas à sua frente. Com todo carinho minha mãe explica que há gente na frente, só aí a mãe da largança se digna - sem graça - a controlar a filha: "espere a amiguinha ir primeiro", como se ninguém tivesse percebido que segundos antes a mesma quase empurrava sua filha para passar à frente. A pobre menina (digo pobre de criação, não de condição), fica com cara de tacho sem saber se avança ou aguarda sua vez.
Episódio 2 - bilheteria da travessia de barco Ribeira-Plataforma. Um pai ensina seu filho a mentir a idade para não pagar R$0,50 de passagem: "se perguntarem, você tem só quatro anos". Depois os vi no mesmo restaurante que nós, certamente o preço da passagem não faria diferença na vida de ambos. Certamente para se exibir para os amigos o mesmo pai deve gastar bem mais que isso. Certamente, se perguntado por quanto dinheiro ele corromperia seu filho a resposta seria "nem por um milhão". Mas por cinquenta centavos o infeliz ensina o filho a mentir. Certamente em sua ignorância ele não percebe o mal que está fazendo ao filho, o quanto isso pode no futuro voltar-se contra o próprio pai, afinal quem é ensinado a mentir vai mentir quando convir à seu conforto ou conveniência. Vai explicar isso para o beócio do pai.
Episódio 3 - Parque Metropolitano de Pituaçu. Milhares de metros quadrados de área livre. Na pista reservada ao skate, algumas crianças - e adultos - andam de bicicleta, ensino meu filho a andar de patinete. De repente dois meninos - entre doze ou treze anos - chegam com sua bola e largam uma bicuda na mesma que a faz explodir na trave que deveria servir de guia aos que aprendem a andar de skate, ou vá lá, de patinete ou bicicleta. Como se estivesse educando meu próprio filho tento argumentar com carinho: "querido, o parque é grande, aqui é uma área para andar de skate ou bicicleta, você pode machucar alguém com uma bolada, procure outro lugar para jogar bola..." Neste momento, levanta de um banco, há uns metros de distância, o que devia ser a mãe dos largados e responde à minha orientação com um "eles estão comigo !", como quem se indigna com a intervenção alheia. Respondo educadamente que ela poderia então explicar ao filho que aquele não era um lugar adequado para chutar sua bola, que procurasse outro canto num parque tão amplo. A imbecil sai resmungando alguma coisa com as amigas, creio que me criticando pela impropriedade de invadir o terreno alheio com conselhos. Penso em esclarecê-la que uma bolada na orelha de uma criança que a fizesse cair de cabeça no asfalto não poderia ser chamada de "acidente", e que sim ela seria legalmente responsável por uma possível lesão corporal, mas logo desisto: seria como jogar sementes sobre as pedras. Me contento com o fato daquela coisa ter saído do local com sua prole, provavelmente me achando um abusado por tentar educar seus filhos sobre onde seria adequado jogar seu futebol (aliás a ditadura da bola nos espaços públicos é um assunto que merece uma postagem especial).
Depois de ensinar as larganças a mentir, ignorar o próximo em benefício próprio, observar somente o seu umbigo e levar vantagem sobre todos, estas pessoas se espantam em ver os casos de violência e ignorância decorrentes do mesmo quadro que apreciam quando os favorece.
Veja bem, não estou falando aqui da fulana que agenciava a filha de sete anos para programa com desembargador do estado, nem do pai que jogou a filha do quarto andar para se livrar de uma queixa de agressão. Falo de pessoas como você e eu que frequentam os mesmos shopping centers, parques, shows e praias. Um cidadão comum que acaba colaborando com um estado de coisas que ele próprio desgosta, por mera incapacidade de enxergar alem do próprio umbigo.
Então eu me pergunto: quem realmente cria, ops, ou melhor dizendo, quem realmente larga os monstros que vemos por aí ?

10 janeiro 2009

Verdades do Velho Safado

"O Bush pode ser reeleito porque ganhou uma guerra fácil. Mas ele não fez nada pela economia. Você nem mesmo sabe se seu banco vai abrir amanhã. Não quero ficar me lamentando. Mas você sabe, nos anos 30 pelo menos todo mundo sabia onde estava.Hoje, é um jogo de espelhos. E ninguém tem bem certeza do que o sustenta. Ou para quem estão trabalhando na verdade. Se estiverem trabalhando."

Este parágrafo de "O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio" (LP&M), coletânia de trechos do diário de Charles Bukowski selecionadas pelo próprio , não podia ser mais atual. Ainda que consideremos que o Bush em questão era o pai, a guerra era a do Golfo, e o ano era 1991.
Quase dezoito anos depois os espelhos estão se espatifando em cacos, e sobra a certeza de que somente o vento sustentava o jogo. Vento de um discurso vazio, de uma propaganda enganosa de prosperidade e solidez que se desmanchou no ar para espanto dos idiotizados que criam nas mentiras que eles criavam. "Falar é fôlego" dizia um personagem de Suassuna. O fôlego do marketing dos norte-americanos se acabou, talvez depois de acabados os anabolizantes e doppings de sua economia falsamente bombada. A máscara caiu. Agora os neoliberais clamam pela ajuda do Papai-Estado. Liberais com o Estado dos outros, né ? Afinal a regulamentação da economia pelo Estado serve para impedir que chacais como o Tio Sam venham explorar as ovelhas no nosso quintal. Agora a GM, a Chrysler, a Ford e os bancos pedem mesada - intervenção do Estado - para sobreviverem. Gostaria de saber o que o velho safado diria de tudo isso. Certamente sua opinião estaria recheada de adjetivos impublicáveis. Ele sabia das coisas.
(Na foto, Charles Bukowski como gostava: uma cerveja numa mão, um cigarro na outra e uma "dama" entre elas.)

05 janeiro 2009

Tragédia Anunciada ou Como uma Minoria Intransigente Condena uma Maioria Silenciosa ao Sofrimento



Pois é, este blog cantou a bola em abril, conforme post que você pode conferir logo abaixo, já que estivemos inativos por tanto tempo...
Depois de meses, muitos meses, levando bombas diariamente sobre a cabeça de seus cidadãos, o governo Israelense decide perpetrar uma ofensiva militar sobre o Hamas para estancar este quadro de agressões. Aviões e tropas são mobilizadas para bombardear as posições das milícias palestinas que expulsaram do território de Gaza seu próprio governo para assumir a posição de ponta de lança a espezinhar a vida dos israelenses diária e indefinidamente. O território devolvido à autonomia palestina num processo lento e árduo de negociação em busca de paz, é tomado de assalto por forças minoritárias e intransigentes que não admitem o direito à existência da nação judaica entre tantas nações árabes no Oriente Médio. O Hamas, com sua truculência cega, condena o povo palestino da região de Gaza a uma retaliação que seria tão trágica quanto previsível num cenário de radicalismo unilateral.
Digo unilateral porque vimos, há poucos anos, a ação do Estado de Israel contra radicais de seu próprio lado. O esvaziamento dos assentamentos judaicos, com as imagens de soldados israelenses arrastando judeus ortodoxos para fora de seus redutos em terras predominantemente árabes, para que se pudesse chegar a um caminho de entendimento e paz onde ambos os lados pudessem conviver em algo semelhante à harmonia, retrata a preocupação do governo de Tel Aviv, e a maioria de seu povo, em se chegar a uma solução pacífica e definitiva para o impasse.
Mas, a única "solução" que os radicais do Hamas e seus aliados imaginam para a situação é a aniquilação total do Estado Judeu, como se fosse possível se extinguir um país de milhões de habitantes pela simples vontade de que eles não existam. Se bem que os funcionários da USP já tentaram isso em assembléia do sindicato: acabar com Israel por decreto. Deve constar de alguma ata deles, tremo de medo só em pensar... rsrsrs
Idiotices à parte, campeia a ignorância sobre o tema. Principalmente entre a esquerda brasileira, da qual às vezes me envergonho de participar, que vê toda ação pró-palestina como um novo Che Guevara a libertar o povo oprimido. Apesar de historicamente discutível, a autonomia palestina é uma necessidade que se impõe na ordem do dia, isso não se discute. Mas uma autonomia responsável, de um povo/país que se permita a conviver com seus vizinhos. E não a baderna instituída por uma minoria violenta que crê acabar com seus desafetos na base do explosivo, definindo quem tem e quem não tem o direito de viver neste mundo.
Como eu disse então, os bombardeios diários do Hamas contra as cidades israelenses não tinham o destaque da mídia como tem a resposta do governo de Tel Aviv após tantos meses de agressão. "Massacre" dizem hoje as faixas nas praças de Paris, mas ninguém se manifestou nos últimos muitos meses em que mães e filhos tinham que correr aos abrigos quando choviam foguetes Qassam no sul de Israel.
(foto: agência AP)